Carolina Simões, fundadora do Lugar nas EstrelasLUGAR NAS ESTRELAS:
UM UNIVERSO DE EMOÇÕES

Mudou de vida, regressou às origens e fundou na aldeia de Peso o primeiro alojamento certificado em Portugal pela Fundação Starlight. Conheça a história desta professora de Físico-Química e da sua aposta no astroturismo.

No Lugar nas Estrelas, a paisagem é rainha. Situado na aldeia de Peso, Covilhã, num vale entre a Serra da Estrela e a Serra da Gardunha, este alojamento rural está integrado num contexto natural, histórico e cultural privilegiado para quem busca uns dias de descanso, descoberta ou aventura no centro do país. No entanto, a paisagem mais valorizada e diferenciadora deste alojamento está bem acima da linha do horizonte.

Fundado por Carolina Simões (Carolina), o Lugar nas Estrelas é o primeiro alojamento português certificado pela Fundación Starlight, uma entidade criada pelo Instituto de Astrofísica de Canarias para promover a astronomia e a defesa do céu noturno e das estrelas. Além da paisagem e património térreos das redondezas, o céu, as estrelas e o seus mistérios e fenómenos naturais, são a experiência original deste alojamento, onde os telescópios e os binóculos fazem parte do mobiliário.

Natural da Covilhã, Carolina (na foto) é docente de Físico-Química, profissão que exerceu durante 12 anos nas Caldas da Rainha, cidade onde viveu com o marido e os dois filhos até meados da década passada. Todavia, apesar do longo período de residência, o casal nunca criou raízes naquela cidade. “A ideia de regressar esteve sempre na nossa mente, tanto que nunca comprámos casa lá”, diz, e o regresso às origens aconteceu em 2017.

A ideia inicial era radicarem-se na cidade da Covilhã, mas as memórias de infância criadas na aldeia de Peso, ali a uma dúzia de quilómetros de distância, falaram mais alto e, de um terreno e de uma habitação outrora usada pelos pais, nasceu o Lugar nas Estrelas. “No início não foi nada fácil”, confessa Carolina. Apesar da familiaridade com a aldeia e os habitantes locais, alguns amigos de infância, encontrou uma comunidade fechada. Habituada a trabalhar em equipa, iniciou um processo próprio de integração, quer na nova geografia, quer no setor onde pretendia investir. “Tentei conhecer o maior número de pessoas possível dentro do turismo da região”, conta, sublinhando que foi a todos os eventos regionais relacionados com o turismo na região. Apesar de ter formação em ciências, Ana sabia que precisava de aprender as aritméticas do negócio. “Senti que precisava de outras ferramentas”, explica, e durante dois anos “caminhou” para Lisboa, para a Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril e para o Turismo de Portugal, onde fez várias formações relacionadas com o setor.

Lugar nas estrelas, Peso, Covilhã, Serra da EstrelaUm espaço familiar (com espaço para animais de estimação)
O Lugar nas Estrelas nasce em 2018 com a estrutura que ainda se mantém: três suites com cozinha e capacidade para albergar até cinco pessoas, piscina e meio hectare de terreno. “Dedicamos o Lugar nas Estrelas a famílias”, diz. “Chamamos-lhes suites familiares, porque têm kitchenette, o que é muito útil para quem tem bebés”, adianta. E, como não há restaurantes na aldeia – o mais próximo está a cerca de 20 minutos de automóvel, o alojamento soma aos pequenos-almoços a possibilidade de confecionar petiscos a pedido dos hóspedes. Muitos deles trazem os seus animais de estimação e são poucos os restaurantes que aceitam a presença de animais, um ponto fraco da restauração na região, aponta a empresária. “Nós temos hóspedes que nos dão preferência porque aceitamos a presença de animais de estimação”, diz. “É uma mais-valia”, sublinha.

Entre as nacionalidades dos hóspedes que chegam ao Lugar nas Estrelas, há um equilíbrio entre nacionais e estrangeiros, mas nem sempre foi assim. “Antes da pandemia, tínhamos mais estrangeiros”, adianta. Entre americanos, brasileiros, ingleses, belgas e outras nacionalidades do norte da Europa, há de tudo um pouco. Porém, curiosamente, o grande e próximo mercado espanhol não é relevante. “Este ano até tivemos mais alguns do que no ano passado, mas quase sempre de passagem para Lisboa, Porto ou Évora, por exemplo. Não ficam na região”, explica.

Quem chega para ficar explora a região de várias formas, mas com um denominador comum: o sossego. Como boa anfitriã, que vive a atividade com um gosto que vai muito além da obrigação profissional, a professora transforma-se numa conselheira e amiga dos hóspedes. “Ser uma unidade pequena permite-nos criar uma relação com os hóspedes”, diz. Não é estratégia de negócio, mas sim um modo de ser que está na origem da mudança de vida, e que depois se reflete na fidelização dos clientes. Alguns chegam a regressar três e quatro vezes por ano.
Quase seis anos após a mudança e de uma fase inicial trabalhosa, Carolina está feliz. “Gosto muito deste contacto que se tem com as pessoas, da procura constante de parceiros, de soluções, e do trabalho de valorização da nossa região. Foi isto que me fez regressar e investir no turismo”, confessa.

A aposta no astroturismo
O Lugar nas Estrelas está presente nas plataformas de reservas mais conhecidas, como o Booking.com e o Airbnb.com, mas para a empresária, o website do alojamento é a montra mais importante do negócio. “O Booking.com e o Airbnb.com são plataformas importantes para aparecer, porque é lá que as pessoas vão primeiro”, defende. Carolina conta que, por exemplo, no Booking.com, além de reservas, o objetivo era obter reviews dos hóspedes. “Cheguei a definir que quando tivesse cem reviews passava ao website”, diz. E assim foi. Construída a notoriedade, recorreu aos serviços de uma empresa de marketing sediada no Fundão, e investiu no website e no desenvolvimento e branding do conceito. Resultou. Hoje, cerca de metade das reservas chegam através do website do alojamento.

Astroturimo no Lugar das Estrelas“Na fase inicial, preocupamo-nos muito com fazer dinheiro. É normal. Isto é um investimento, um negócio”, explica. No entanto,  com a maturidade trazida pelo tempo e pelas experiências que vão acontecendo, foram surgindo e amadurecendo novas ideias.
“Antes da pandemia, fazíamos aqui algumas atividades noturnas, à luz das estrelas, e começamos a perceber que as pessoas gostavam”, diz. Embora tenha algum conhecimento de formação, chegou a convidar um professor da Universidade da Beira Interior para ir ao Lugar nas Estrelas explicar e interpretar alguns fenómenos astronómicos - chuvas de estrelas, entre outros - e o feedback dos hóspedes era sempre muito positivo. Em 2021, depois da presença na Primeira Conferência Internacional de Astroturismo, realizada em Évora, pela Fundação Starlight, a ideia ganhou mais força. Foi lá que conheceu Pedro Russo, um professor de Astronomia e Sociedade na Universidade de Leiden, nos Países Baixos, que se tornou um parceiro e consultor, fundamentalpara que o Lugar nas Estrelas se tornasse o primeiro alojamento em Portugal com a certificação Starlight Rural House 2022.

O astroturismo é uma tendência em crescendo em Portugal. Em 2007, foi criada a reserva Dark Sky Alqueva e, em 2011, os céus do grande lago alentejano tornaram-se no primeiro destino mundial com a certificação Starlight Tourism Destination. Pelas características que tem e pelo perfil do turista que atrai, astroturismo é sinónimo de sustentabilidade.
Mais recentemente, foi a vez das reservas Dark Sky Aldeias do Xisto e Dark Sky Vale do Tua serem galardoadas com a mesma certificação internacional, aumentando para 13 mil quilómetros quadrados a área nacional certificada para a observação de estrelas.

Só no Reino Unido estima-se que existam mais de 20 mil astrónomos amadores que viajam frequentemente em busca de locais para observar as estrelas, mas dada a dimensão de nicho e o fator novidade, ainda não há estudos que afiram o valor do astroturismo no contexto global do turismo, mas Carolina está convicta da estratégia diferenciadora que seguiu e a presença no Encuentro Internacional Starlight 2022, realizado em Fuencaliente de La Palma, em Espanha, em outubro, deu-lhe ainda mais confiança. “Foram ambos encontros muito ricos, onde reina o espírito de entreajuda. Tanto em Évora como em La Palma, conheci pessoas na fase inicial do negócio e outras que investiram no astroturismo há 30 anos, que, como eu costumo dizer, ‘vivem das estrelas’”, conta. “Eu acredito que também vou conseguir. Um dia, vou viver das estrelas”, diz, convicta. O passo seguinte é a criação de uma empresa de animação turística focada em atividades relacionadas com astroturismo.

Paisagens Térreas
Todavia, nem só de estrelas se faz o universo de Peso. À volta da aldeia há uma autêntica constelação de patrimónios natural, histórico e cultural para conhecer e Carolina faz questão de ajudar os hóspedes nessa odisseia, através de propostas de programas em função da oferta e das estações do ano. “Temos dois tipos de programas - um para o verão e outro para o inverno -, que faço chegar aos hóspedes, em jeito de sugestão, assim que a reserva é concretizada”, explica.

Alojamento com pequeno almoço, petiscos e cestas de picnicUm deles é sobre a grande montanha, a Serra da Estrela. Se preferirem com guia, Carolina recorre a parceiros como Nuno Adriano, um guia com pergaminhos no Centro de Portugal. Para quem prefere explorar os mistérios da serra por conta própria, e são cada vez mais os visitantes que gostam de explorar a montanha através dos vários percursos pedestres existentes, a anfitriã dá sempre uns conselhos sobre o que ver, como lá chegar, e os cuidados a ter. Um destes programas é dedicado ao tema da água e das fontes que existem na Serra da Estrela. “Identifico-as e localizo-as, para que possam lá chegar em segurança, e proponho sempre que levem uma cesta picnic feita por nós”, diz.

Em alternativa, Carolina recomenda um passeio pela Serra da Gardunha, com passagem pelas Casas Temáticas existentes nas aldeias serranas, que permitem conhecer e interpretar o património cultural da região. Numa vertente mais ativa, a realização de um passeio em bicicleta elétrica por uma das rotas BTT existentes na Gardunha. E, numa ótica mais histórica, são sugeridos passeios pelas Aldeias Históricas e Aldeias do Xisto mais próximas do alojamento.

“No inverno, é normal as pessoas preferirem a Serra da Estrela, devido à neve. No verão, as preferências são mais diversas, mas dado o calor que se faz sentir, aconselho sempre passeios que levem as pessoas às praias fluviais da região”, explica. Cortes do Meio, pela quantidade e originalidade dos locais é uma das suas recomendações preferidas, confessa. Ou seja, de verão ou de inverno, na terra ou no céu, há sempre que ver, fazer e sentir no Lugar nas Estrelas.

@iNature | Fotos iNature e Lugar nas Estrelas.